quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fome atinge duas vezes mais os bóias-frias que os sem-terra

04/05/2007

Pesquisa do biólogo Fernando Ferreira Carneiro contasta que qualidade de vida dos bóias-frias que trabalham na lavoura de cana-de-açúcar é pior do que a de famílias sem-terra

Daniel Merli e Welton Máximo, de Brasília (DF)


A reforma agrária tem um impacto positivo na saúde do trabalhador rural. A hipótese, que deixou o biólogo Fernando Ferreira Carneiro obcecado "por mais de dez anos", foi comprovada na prática por suas pesquisas para a tese de doutorado A saúde no campo: das políticas oficiais à experiência do MST e de famílias bóias-frias.

Para averiguar se sua idéia correspondia à realidade, Fernando Ferreira buscou um cenário em que eram vizinhos "um projeto de reforma agrária e um projeto de agronegócio". O município Unaí, noroeste mineiro, foi o local encontrado pelo biólogo. Lá, Fernando Ferreira pôde comparar a qualidade de vida de bóias-frias que trabalham na lavoura de cana-de-açúcar com famílias de sem-terra, acampados de forma precária, e agricultores assentados pela reforma agrária.

Os próprios números comprovam que a segurança alimentar dos sem-terra é quatro vezes melhor que a dos bóias-frias, afirma. Em sua pesquisa, entrevistou 202 famílias desses três diferentes públicos. A pergunta era se alguém havia enfrentado dificuldades de alimentação nos últimos três meses. O resultado mostra que uma em cada dez famílias dos assentamentos rurais afirmava ter passado fome. O volume crescia para 20% no caso de pessoas que vivem em acampamentos. No caso dos bóias-frias, esse índice dobra: 40%.

Nos acampamentos e assentamentos, a chave para a melhor alimentação dos trabalhadores é a diversificação da produção e o sistema de decisões coletivas. A gente não pode deixar todo mundo produzir uma só coisa para depois ter de comprar alimentos, justifica Sérgio Oliveira Nunes, do Acampamento Índio Galdino.

Já no cotidiano dos bóias-frias, não há diversidade da produção. Para dar conta de um dia de trabalho na monocultura canavieira, recorrem a alimentos gordurosos e ficam mais propensos a sofrer de hipertensão. Dores na coluna e estresse são outros problemas de saúde vividos por esses trabalhadores.

O convívio com agrotóxico é, também, causa de doenças, segundo agentes de saúde de Unaí. Dentro do ônibus, o cheiro é forte e às vezes nem dá para respirar, relata o bóia-fria Geraldo Lourenço da Silva, 69 anos.

A pesquisa, segundo Fernando Ferreira, mostra a necessidade do governo federal fazer reforma agrária. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (3) que a reforma agrária é uma questão inquietante, já que o governo não teria recursos para comprar a terra e dar condições adequadas de produção simultaneamente. (Agência Brasil)

Links relacionados:

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/diversidade-de-producao-agricola-e-chave-de-sem-terra-para-garantir-boa-alimentacao

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/fome-de-boias-brias-em-unai-convive-com-producao-de-alimentos-da-reforma-agraria-2

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/limpar-agrotoxico-do-corpo-e-ultima-tarefa-em-um-dia-de-boia-fria


"Brasil de Fato"

Sem comentários: