11/09 - Marilene Felinto
Não é de hoje que os Estados Unidos querem transformar o continente africano num quintal para disseminar suas sementes transgênicas e o excedente de sua produção de alimentos desse tipo.
A África está no centro da disputa entre Estados Unidos e União Européia (UE) pela liberação do comércio de alimentos geneticamente modificados no mundo. Os EUA entraram há poucos dias com uma ação contra a UE junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) pedindo a suspensão da proibição de novos produtos desse tipo no mercado europeu.
Segundo a agência de notícias All Africa, o secretário de Comércio estadunidense, Robert Zoellick, anunciou que 13 países africanos, incluindo África do Sul e Egito, apoiam a ação de seu país contra os europeus na OMC.
Entretanto, em Uganda – país instado a apoiar a ação dos estadunidenses mas que não aceitou de imediato –, autoridades de defesa do consumidor citadas pela All Africa declararam à imprensa africana que “esta guerra comercial entre os Estados Unidos e a Europa por alimentos geneticamente modificados não é uma guerra por Uganda ou pela África”, mas sim uma batalha entre “elefantes econômicos” pouco atentos aos interesses das nações menos desenvolvidas. Uganda recusou-se recentemente a plantar uma espécie de banana transgênica resistente a pragas oferecida pelos EUA, temendo que seus produtos passem a sofrer bloqueio no mercado europeu.
O debate sobre os transgênicos deve ocupar espaço na reunião dos oito países mais ricos do mundo, o G-8, que começou esta semana na França. Em 21 de maio último, o presidente George Bush acusou a Europa de dificultar o combate à fome na África ao adotar uma moratória no licenciamento de novos transgênicos em território europeu que já dura cinco anos. Para Bush, os europeus estão cientificamente atrasados ao revelar “medos infundados” pelos produtos que contêm organismos geneticamente modificados. Ele acusa a Europa de ser a responsável por levar várias nações africanas a evitar investir em biotecnologia por medo de que seus produtos sejam impedidos de entrar nos mercados europeus.
Não é de hoje que os Estados Unidos querem transformar o continente africano num quintal para disseminar suas sementes transgênicas e o excedente de sua produção de alimentos desse tipo. A maior parte da ajuda humanitária que a África recebe em forma de alimentos geneticamente modificados vem dos EUA, único país do hemisfério norte a impor ajuda “em espécie”, com uma política de comprar somente nos Estados Unidos os alimentos a serem doados, privilegiando a agricultura e as multinacionais estadunidenses.
Ambientalistas têm alertado para o fato de que a introdução de sementes modificadas na África tornará os agricultores africanos reféns da tecnologia dessas multinacionais, desde a produção de sementes até o plantio e a colheita. O especialista em políticas alimentares das Nações Unidas, Jean Zigler disse recentemente a um jornal inglês que ele é “contra a teoria das corporações multinacionais que dizem que se você está contra a fome, deve ser a favor dos OGMs”. Ziegler acha que “há muito alimento natural, normal e bom no mundo para alimentar o dobro da humanidade.”
Contaminação intencional
A política protecionista dos EUA também vai contra as recomendações de Organizações Não Governamentais (ONGs) internacionais de combate à fome como Oxfam e Action Aid e de defesa ambiental como Greenpeace, que se opõem à introdução de transgênicos na África. Comunidades científicas do mundo todo ainda não chegaram a uma conclusão quanto aos efeitos dos transgênicos sobre o meio ambiente e a saúde humana.
“O Greenpeace recomenda que os países que prestam ajuda humanitária à África façam suas doações em dinheiro, para que o alimento seja comprado dentro da própria África, incentivando a agricultura e a economia locais. Em geral, os países da União Européia fazem isso”, explica Tatiana de Carvalho, engenheira agrônoma e assessora da campanha de engenharia genética do Greenpeace Brasil.
Tatiana disse ainda ao Brasil de Fato que não se justifica os Estados Unidos insistirem em doar grãos transgênicos quando existe no mundo uma oferta suficiente de grãos não transgênicos. “Isso mostra que a estratégia deles é muito mais a contaminação intencional dos bancos de sementes dos países do sul da África do que ajuda humanitária. Se a intenção fosse de ajuda a uma situação emergencial de fome, eles buscariam outra solução.”
Ainda segundo ela, os Estados Unidos entraram com esta ação na OMC por medo do Protocolo de Cartagena, o protocolo internacional de bio-segurança, que está prestes a entrar em vigor, faltando apenas a assinatura de dois países para tanto. “Já são 48 países ratificando o protocolo. Faltam apenas mais dois para os 50 necessários para que ele entre em vigor, estabelecendo que qualquer país tem o direito de rejeitar grãos transgênicos. Então, quer dizer que essa entrada dos EUA na OMC contra a moratória também é um temor da vigência desse protocolo”, afirmou a engenheira.
"Controvérsia"
Geografia Geral e do Brasil - Imperialismo - 11/9 - nº 3011
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
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