quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Camaroneses se rebelam contra produtores de banana

3/9/2008

Philippe Bernard

Com o boné afundado sobre o crânio reluzente de suor como sinônimo de rigor, Amédée Bessengue, 26 anos, sete dos quais como empregado das plantações de banana, só admite que, naqueles dias, estava "em greve". Sobre a forma como empregou seu tempo durante os motins, permanece vago. Mas lembra-se perfeitamente do que os manifestantes gritavam: "Queremos que os franceses nos paguem bem. Afinal, estamos em casa, não somos escravos". Três meses depois da pilhagem nas plantações, uma pichação permanece sobre o muro de um alpendre: "Paguem 100 mil francos (150 euros) ao último empregado".

Era o fim do mês de fevereiro. Camarões estava em revolta, e com ele a capital da banana, a 80 quilômetros a oeste do porto de Douala. Durante quatro dias de greve, barricadas e pilhagens, Njombe Pneja, localizada no meio de colinas verdejantes, viveu sob estado de sítio. Nove jovens foram mortos pelo exército e ainda hoje a cidade está em estado de choque. As bocas continuam fechadas, os olhares furtivos, e os encontros discretos, com medo de serem "fichados" - denunciados aos militares.

O prefeito, Paul-Eric Kingue, está na prisão desde 29 de fevereiro. Ele foi suspenso de suas funções. Oficialmente, foi acusado de ter incitado os jovens à revolta e de desviar verbas. Mas a maioria da população duvida disso. Paul-Eric é um homem corajoso. Ficou escandalizado com os salários pagos pelas companhias que exploram os bananais - 25 mil francos (37,50 euros) por mês. Denunciou os privilégios fiscais e as isenções de impostos que beneficiavam as companhias, todas dirigidas por franceses. Logo, defendia o que os camaroneses chamam de "baixo povo".

Para a população não resta dúvida: foram as companhias que conseguiram a destituição do prefeito. Depois de sua prisão, esse pilar do partido presidencial, ultradominante, enviou uma carta aberta ao chefe de Estado, Paul Biya, para justificar sua cruzada. Ele descreveu "o paradoxo desconcertante" de Njombe Penja, "uma região tão rica com uma população tão pobre".

Aturdidos pela repressão, os jovens não admitem de pronto que participaram dos motins. Quanto aos franceses produtores de bananas, hesitaram antes de admitir o evidente: que as companhias que dirigem haviam se tornado alvo.

A violência contra o patrão, o "explorador"? O francês? O branco? É difícil separar as várias camadas do ressentimento. "Os protestos não eram conscientemente dirigidos contra as companhias francesas. As pessoas expressaram suas frustrações, pegaram o que estava à mão, queriam punir o governo de Yaoundé", diz Pierre Moulima, diretor de recursos humanos da SPM (Sociedade de Plantações de Mbanga). Mas logo admitiu: "Nos tratam constantemente como 'franceses colonialistas', nos acusam de confiscar as terras e de reduzir a mão de obra camaronesa à escravidão". Depois, mais calmo, disse: "As pessoas que sustentam isso não são educadas".

Em seu escritório climatizado, onde os vidros e o material de informática tiveram de ser totalmente substituídos depois do motim, Christophe Bresse, francês, diretor das plantações da SPM, folheia o álbum onde foram arquivadas as fotos do vandalismo. Veículos e equipamentos agrícolas incendiados, bombas de irrigação destruídas, armazéns pilhados: "Foi muito violento. Eles queriam destruir as máquinas de produção, e a pilhagem foi sistemática. Nós nos tornamos alvo. Mas eles atiraram nos próprios pés, afinal, quem manda aqui?"

A poucos quilômetros dali, a sociedade bananeira PHP, filial da Companhia Frutífera (da qual a gigante americana Dole é dona de 37% do capital), a mais importante e mais temida da região, as Cervejarias de Camarões e a usina de água mineral Tangui, todas sob direção francesa, tiveram um destino parecido. Seus funcionários e familiares, cerca de vinte pessoas no total, foram evacuados por avião para Douala no segundo dia de violência.

Ao prejuízo material, estimado em 1,2 bilhão de francos CFA (1,8 milhões de euros) pela SPM, soma-se a destruição de vários hectares de bananais, cortados a facão, instrumento de trabalho usual, por centenas de jovens. Principalmente "vândalos desempregados" que fugiram carregando pencas de bananas, segundo os dirigentes, que por sua vez admitem que alguns de seus próprios empregados fizeram parte dos ataques.

"A maior parte de nossos empregados defendeu as instalações. Na situação difícil em que eles se encontram, estão bem contentes de receber regularmente um salário irrisório", diz Joseph Fochiyé, que compara o prefeito encarcerado a um "líder de quadrilha". Na cidade ou nas plantações, a passagem do 4 X 4 desse especialista dos bananais, responsável pela produção, detona reações de inquietude. Todos sabem que o pai dele, Jean, foi um diretor temido dos serviços de informação camaroneses sob o governo dos presidentes Ahidjo e Biya. "Seu pai metia medo, mas ele não; durante o motim, ficou escondido em casa como todo mundo", diz Guillaume Ranson, diretor geral adjunto da SPM.

A perder de vista, por vários quilômetros, fileiras de bananeiras sobem as colinas, cobertas de manchas azuis: sacos plásticos que protegem as plantações de insetos e aceleram o amadurecimento. A plantação, a irrigação, o crescimento das plantas, o florescimento e o desenvolvimento de frutos, voltados para a exportação para a União Européia, exigem o cuidado constante e minucioso por parte de milhares de trabalhadores: 2 mil na SPM e 6 mil na PHP.

"O salário não é bom", confirma Elysée Mbelle, um jovem plantador. "Não é normal que tenhamos fome aqui enquanto alimentamos os franceses". Depois dos motins, os salários receberam um aumento simbólico, o salário mínimo passou a 31 mil francos (46,50 euros) sem bônus, com o qual pode chegar a 45 mil francos (67,50 euros), segundo a direção da SPM.

Outras testemunhas atribuem a cólera que se manifestou à frustração devido à produção ser quase que inteiramente exportada. "Muitos empregados se fizeram demitir por roubar bananas. A direção não as fornece. Somente os refugos são vendidos nas feiras. Eles quiseram se vingar". As condições de trabalho (doze horas pagas, oito segundo alguns), a remuneração fixa, sem considerar o tempo, e a disciplina de ferro alimentou as frustrações. "Se você pede um intervalo por causa do calor, o chefe diz: 'Ou você volta, ou será advertido por recusar-se a trabalhar'", diz um trabalhador temporário. Perfeitamente ciente dessa situação, o arcebispo de Douala, Christian Tumi, que nunca foi conivente com as autoridades, resume sobriamente: "Em Njombe Penja, os direitos fundamentais dos cidadãos não são respeitados".

Segundo a Ação Cristã para Abolição da Tortura (ACAT-Littoral), a exploração das terras cedidas ou alugadas pelos camponeses locais às sociedades bananeiras por uma soma que não é reajustada há décadas aumentou o descontentamento dos revoltosos. "Meu pai vendeu sua terra nos anos 70 sob a promessa de que seus filhos seriam assalariados a vida toda, e não deixados por conta própria. Ele se arrependeu, já que constatou que a pobreza não recuou", testemunha um dos cidadãos. Além do mais, há casos de intoxicações alimentares ligados à aspersão aérea de produtos fitossanitários. Ao denunciar os "maus-tratos sob os quais vivem a população de Njombe Penja há anos", a Acat denuncia "a conivência dos investidores franceses, pouco conscientes do bem-estar dos camaroneses".

Na entrada de cada fileira de bananeiras, destacam-se pequenos panfletos. Eles levam impressa a bandeira estrelada da União Européia. As companhias bananeiras, principalmente as que operam em Njombe Penja, de fato recebem subsídios a título de "apoio ao setor bananeiro" do país, que exporta 300 mil toneladas de banana por ano. Entre 2001 e 2005, 24 milhões de euros foram destinados "à política de desenvolvimento econômico e de luta contra a pobreza", diz a representação da União Européia em Yaoundé. Certificados Iso e Globalgap também foram concedidos às mesmas companhias. O primeiro atesta o "gerenciamento ambiental", e o segundo as "boas práticas agrícolas".

Um dirigente do setor assegura que paga "todos seus impostos". Mas admite que sua companhia recebe, além das subvenções da UE, uma isenção de taxas por parte das autoridades camaronesas por conta de realizar atividade em área "socialmente sensível". Esse imposto deveria revertido para as comunidades extremamente pobres. Mas o sistema fiscal camaronês, gangrenado pela corrupção, não tem nada de transparente.

"As companhias não pagam impostos nem taxas há trinta anos", afirma o prefeito M. Kingue, por sua vez. Em setembro de 2007, ele denunciou essa situação ao primeiro-ministro e obteve uma reavaliação fiscal. Pouco depois, os patrões visados "ameaçaram me matar ou me prender", escreveu ele de sua cela. Pressionado, um dos interessados alega que sua companhia faz doações diretamente à comunidade, ataca as "exigências de dinheiro" do prefeito e refuta suas acusações: "Puro folclore camaronês!"

"Controvérsia"
Le Monde - Nação - 3/9 - nº 2935

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